Seu presidente, Osni Roman, explica como a empresa faz para crescer solidamente, mesmo com a economia brasileira patinando, como ocorreu em 2012

Nelson Bortolin

Entrar no clube das cinco maiores empresas de logística do País até 2015, com um faturamento de R$ 1 bilhão. Essa é a visão de futuro da Coopercarga, que caminha a passos largos para atingir a meta. No ano passado, a empresa, com sede em Concórdia (SC), faturou R$ 428 milhões. Este ano, espera chegar a R$ 607 milhões. Até outubro, já tinha passado dos R$ 500 milhões.

Qual é o motivo desse sucesso, num cenário de economia estagnada, no qual o Produto Interno Bruto não deve crescer mais que 1,5% este ano? É a pergunta inicial que a Carga Pesada levou ao presidente da Coopercarga, Osni Roman.

Para ele, o bom planejamento, os investimentos na área de logística e a qualificação dos funcionários são os fatores que permitem a aceleração do crescimento da empresa. Este ano, a organização, que reúne cerca de 200 cooperados entre transportadoras e motoristas autônomos, investiu num novo complexo logístico em São Paulo com 131 mil metros quadrados de área total.

A Coopercarga tem instalações espalhadas por todo o País (uma das maiores em Curitiba), para atender clientes como Danone, L’oreal e Aliança. Dispõe de três armazéns no Brasil (dois em São Paulo) e 45 filiais, três das quais na Argentina, Paraguai e Chile.

“Hoje, estamos em 10º lugar em receita entre as empresas de logística e estaremos entre as cinco maiores até 2015”, diz Roman. Segundo ele, o planejamento é levado muito a sério na empresa. “Tudo o que planejamos, nos últimos anos, tem sido executado.”

Parte da frota de 1.700 caminhões da Coopercarga: frigorificados representam 30% do trabalho

A Coopercarga foi criada em 1990. Tem hoje 3.800 empregados (2.800 motoristas) e uma frota de 1.700 caminhões. “A organização nasceu entre pequenas empresas e autônomos para atender às grandes agroindústrias da região de Concórdia”, afirma o presidente.

Os frigoríficos ainda têm forte presença na região. Mas, ao longo dos anos, foram instalando unidades em outros locais e a Coopercarga foi atrás, fazendo sua expansão.

A cooperativa diversificou suas operações. Conforme Osni Roman, no início as cargas frigorificadas representavam 90% do trabalho. Hoje, essa fatia é de 30%. A cooperativa tem forte atuação em produtos de higiene e beleza, papel e celulose e químicos e petroquímicos.

“Investimos em carretas siders, tanques e contêineres, além dos armazéns com os quais pretendemos alcançar um lugar entre os maiores operadores logísticos do Brasil”, explica.

Capacitação

Sede da Fabet, em Concórdia: a mais conceituada escola de motoristas do Brasil

Formação de pessoal sempre foi um valor importante para a empresa, segundo Roman. Em 1997, a Coopercarga foi a principal organização ligada ao Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Oeste e Meio Oeste Catarinense (Setcom) a apoiar a criação da Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte (Fabet), em Concórdia. Hoje, a escola também está presente em São Paulo. “A formação é uma atividade rotineira em nossa organização”, observa.

Para Roman, a falta de motoristas é o principal problema no setor de transporte hoje. “Mas nós preferimos tratar esse tema não como um problema, e sim como uma oportunidade de fazermos diferença. Tratamos de reter nossos motoristas para aumentar nossa eficiência.”

O ano de 2012

Osni Roman vê como positivas as mudanças pelas quais passou o setor neste ano. Ele diz que a Lei 12.619 (Lei do Descanso) é necessária para melhorar as condições de trabalho dos caminhoneiros. Na Coopercarga, conforme o presidente, já existia controle da jornada de trabalho dos motoristas: os caminhões já eram proibidos de rodar das 22 às 5 horas.

Quanto ao limite da jornada em oito horas diárias com mais duas extras previstas na lei, a Coopercarga já está “praticamente ajustada”. O impacto foi o aumento de custo entre 15% e 18%, dependendo da operação. “Apresentamos esses valores aos embarcadores e mostramos a necessidade de renegociar os fretes. Mas há ainda alguns casos para acertar”, ressalta.

Sobre o Euro 5, ele diz que a experiência dos caminhões que a empresa comprou no segundo semestre mostra que a economia no consumo de combustível não compensa os gastos a mais com o diesel S-50 e a Arla 32. “Estamos absorvendo esta diferença”, informa.

Em relação ao pagamento eletrônico do frete aos terceiros contratados pela Coopercarga, Roman afirma que a empresa sempre é favorável às novas tecnologias. “Já trabalhávamos com cartão antes. Também nos antecipamos na implantação do CT-e (Conhecimento Eletrônico de Frete) e até participamos de um grupo de estudos do CT-e na Receita Federal.”

Quanto à opinião dos motoristas terceirizados sobre o pagamento eletrônico, ele disse que inicialmente houve algumas restrições. “Mas eles foram se adaptando e atualmente a maioria gosta do cartão”, declara.

Aqui estão as respostas de Osni Roman a algumas perguntas que nossos leitores foram convidados a fazer através do site www.cargapesada.com.br:

Eduardo A. C. dos Santos, de Chapecó (SC) – A diversificação do negócio, a busca por novos clientes ajudou a empresa a ter esse crescimento expressivo? A profissionalização das pessoas também contribuiu para o desenvolvimento da empresa?
Osni Roman – A profissionalização foi o que mais contribuiu e contribui. A diversificação ajuda a arejar a empresa, mas nós temos um foco e procuramos não desviar dele. Se diversificar demais, daqui a pouco a gente perde o caminho. Queremos atender alguns segmentos de mercado e atuar como operador logístico, que é nossa estratégia de futuro.

César Fonseca, de Juiz de Fora (MG) – O sr. não acha que os caminhoneiros deveriam receber diária quando ficam parados? Hoje, os embarcadores fazem nossos caminhões de depósitos.
Osni Roman – Caminhão parado tem custo, não deveria servir de depósito. É uma anomalia. Este custo precisa ser cobrado. Nós tratamos isso de forma comercial, negociando com cada cliente. É sabido que nem todos pagam ou querem pagar. Mas nossa política é de cobrar dos clientes quando isso acontece.

Edmilson Borges, de Barretos (SP) – Nunca liguei para a Coopercarga para tentar ser cooperado porque sempre ouço que a empresa é uma baita de uma panelona: quem está fora não entra e quem está dentro não sai. A cooperativa está aberta para mais caminhoneiros?
Osni Roman – A Coopercarga está aberta e tem um processo de entrada. Temos todo interesse em receber novos associados. Há uma área corporativa que trata desse assunto. Convido o Edmilson e os demais motoristas a procurarem o responsável pelo processo de ingresso. É o Jerry, o celular dele é 49 9968 0736. A Coopercarga não é uma panelona.

William Krepsky de Souza, de Cuiabá (MT) – Para crescer dessa forma, quais foram os investimentos em recursos humanos realizados pela empresa?
Osni Roman – Não tenho os números. Mas temos cursos constantes. Temos um programa para motoristas na Fabet. Também via Fabet, fazemos treinamento para os demais funcionários. No planejamento e gestão, contamos com o apoio da Fundação Dom Cabral. Temos programas de desenvolvimento para os cooperados. Quando falamos da formação, existe uma gama de iniciativas que a gente realiza. Fazemos questão de investir nas pessoas, porque são elas que fazem acontecer.


Ubirajara Francisco de Araújo, de Goiânia (GO) – Na condição de ex-motorista, o sr. pode dizer que conhece as dificuldades do dia a dia do profissional?

Osni Roman – Fui motorista por sete anos. Conheço a realidade que o motorista vive, sei que é dura. É preciso fazer muito pelos motoristas em termos de estrutura, de atenção. É uma profissão honrosa. Quem a escolhe precisa estar preparado para as dificuldades e assumir seu papel de forma profissional, independente das dificuldades e adversidades que surgirem no caminho.