Modelo da Volkswagen Caminhões e Ônibus cresce 14% em um mercado em retração; gerente de Vendas Wilson Ragusa aponta mudança de perfil do transporte e avanço do e-commerce
Depois de seis anos de domínio do Volvo FH 540 como o caminhão mais vendidos do país, o mercado nacional assiste a uma virada de liderança. Segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o Volkswagen Delivery 11.180 — um modelo da categoria de médios — deve encerrar o ano de 2025 como o caminhão mais emplacado do Brasil.

Wilson Ragusa, gerente de Vendas de Caminhões
De janeiro a outubro, foram vendidas 5.594 unidades do Delivery 11.180 contra 4.565 do FH 540. Enquanto o modelo da Volkswagen cresceu 14% na comparação com o mesmo período do ano anterior, o da Volvo teve queda de 28%. O contraste é ainda mais expressivo considerando que o mercado geral de caminhões recuou 8% no mesmo intervalo e o segmento de médios, ao qual o Delivery pertence, caiu 11%. Já o recuo do de pesados foi de 19%.
“É uma consolidação que vem desde o lançamento da nova linha Delivery”, afirmou Wilson Ragusa, gerente de Vendas de Caminhões da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), em entrevista à Revista Carga Pesada.
Ele recorda que a linha atual foi apresentada entre 2017 e 2018, e rapidamente conquistou espaço entre os frotistas e transportadores urbanos. “Desde lá, conseguimos crescer rapidamente em relação à antiga família Delivery. Hoje temos cerca de 48% de participação nas versões de 6 e 9 toneladas e mais de 50% na linha de 11 toneladas”, explica.
Segundo o executivo, o sucesso do caminhão é resultado de um projeto assertivo, que atendeu às demandas específicas do transporte urbano. “Ouvimos o mercado, especialmente os segmentos de entrega, e conseguimos aprimorar o que já tínhamos de forte com a cabine anterior. O produto caiu no gosto do cliente”, diz.
Entregas urbanas puxam o crescimento
O público-alvo do Delivery está concentrado em operações urbanas e regionais de distribuição, com destaque para baús de carga seca, veículos frigorificados, cestos aéreos e o setor de bebidas. “O e-commerce é um grande impulsionador. Clientes como o Mercado Livre utilizam nosso produto. Também temos ótima participação no segmento de manutenção de redes elétricas e na distribuição de bebidas”, detalha Ragusa.
Mas o crescimento acima da média surpreendeu até mesmo a montadora. “Foi surpreendente, principalmente em um cenário de retração do mercado de caminhões médios e extrapesados. Houve uma migração natural de caminhões maiores para modelos menores, em razão das restrições de circulação nos grandes centros”, avalia o gerente.
Ele também associa o desempenho à expansão do comércio eletrônico e à mudança no padrão de consumo, que ampliou a demanda por entregas rápidas e de menor volume. “É um movimento contínuo e sem volta”, afirma.
Financiamento e novas estratégias
Mesmo com os juros ainda em patamar elevado, Ragusa diz que a VWCO tem atuado para manter o ritmo de vendas. “O Banco Volkswagen e, mais recentemente, o Banco Traton, têm sido fundamentais nesse processo. O número de propostas vem crescendo, e isso ajuda a sustentar o volume”, explica.
Além do crédito tradicional, o consórcio Volkswagen Caminhões e Ônibus vem ganhando peso nas vendas. “Antes representava de 3% a 4% do faturamento. Hoje já chega a 10%. É uma alternativa mais acessível para pequenos e médios transportadores”, afirma.
FH 540 segue líder do segmento
A Volvo ressalta que seu caminhão FH 540 segue como líder absoluto no segmento de pesados, posição que ocupa há sete anos consecutivos. “A queda em emplacamentos em 2025 está ligada diretamente a redução total do mercado nesse segmento. A versão 540 cv equipa principalmente veículos com tração 6×4, dedicados em sua maioria a carretas rodotrem de 74t. Foram justamente essas composições maiores e mais caras que tiveram queda nesse momento de juros bastante elevados”, disse a montadora por meio de nota enviada à Revista Carga Pesada.
“Vale destacar que, mesmo com volumes menores, a Volvo cresceu em marketshare no segmento de pesados, passando de 28,9% para 30,3%, comparando o acumulado do ano de 2024 x 2025. Como complementação, a queda do mercado total de pesados no acumulado deste ano até setembro foi de 20,5%, segundo dados da Anfavea (entidade que representa as montadoras).”

O Volvo FH 540 teve 3.930 emplacamentos de janeiro a setembro




