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Número de caminhoneiras dobra em 6 anos, mas salários continuam menores

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Desde 2018, quantidade de motoristas mulheres empregadas aumentou de 6.677 para 13.883; salário médio é 6,6% mais baixo

Nelson Bortolin

Apesar de ainda muito pequena, a participação das mulheres na mão de obra estradeira vem crescendo sem parar nos últimos seis anos. Em 2018, elas representavam 0,79% do total de motoristas empregados. Hoje, representam 1,21%.

Em termos absolutos, o contingente de mulheres mais que dobrou, de 6.677 para 13.883 profissionais. No mesmo período, a quantidade de motoristas homens foi de 858.830 para 1.135.548.

As informações são do Guia Brasileiro de Ocupações, uma iniciativa do Ministério do Trabalho e Emprego e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Assim como nas demais profissões, as mulheres caminhoneiras ganham menos que os homens. Mas a diferença salarial vem diminuindo. De acordo com o guia, em 2015, o salário médio das motoristas empregadas era de R$ 1.914, uma defasagem de 9,72%na comparação com a remuneração masculina.

Já, em 2022, último dado disponível no portal, o salário médio das mulheres era de R$ 2.885, valor 6,6% abaixo do ganho dos homens.

O levantamento feito pela reportagem também mostra que as mulheres caminhoneiras são mais escolarizadas. Entre elas, apenas 6,5% não completaram o ensino fundamental. Já, entre os homens, são 14%. A maioria das motoristas, 73%, tem ensino médio completo contra 63% dos homens.

Há 3% de caminhoneiras que completaram o ensino superior. Na segmentação masculina, apenas 0,76%.

Em relação à idade, as mulheres caminhoneiras são mais novas que os homens. Enquanto 25% deles têm entre 50 e 64 anos, somente 16% delas estão nesta faixa etária. A maior parte das motoristas – 36% – tem entre 40 e 49 anos. A segunda faixa com mais profissionais é a de 30 a 39 anos, na qual estão 34% das caminhoneiras.

“Um copo meio vazio ou meio cheio”

Fundadora do projeto Rota Feminina, consultora em transporte, e CEO da i9Exp, Suzana Soncin diz que os dados mostrados pela reportagem podem ser vistos como “um copo meio vazio ou um copo meio cheio”.

Ela alega preferir sempre olhar para o lado positivo.  “Eu acho que existe um trabalho de várias frentes para incentivar as mulheres no transporte”, declara. E cita o próprio Rota Feminina que realiza iniciativas para incentivar a participação da mulher não só como motoristas, mas em toda a cadeia logística. “Temos a própria Fabet, que também faz trabalhos nesse sentido. E há empresas apoiando, patrocinando”, afirma.

A consultora diz que, há dez anos, era difícil encontrar mulheres pilotando caminhões. “Hoje, a gente encontra muitas delas e todas orgulhosas do que fazem.”

Suzana Soncin, CEO da i9Exp

O Rota Feminina promove encontros como o Conexões que Movem, que será realizado dia 19 de agosto em Campinas, que tem como um dos objetivos preparar as mulheres para atuarem no setor de transporte. “Entrar num ambiente que às vezes não tem nenhuma outra mulher não é fácil. Elas precisam ter uma rede de apoio. Então a gente conversa muito sobre isso.”

Soncin ressalta que o movimento não reivindica nenhum privilégio para as mulheres. “Queremos as condições básicas, o respeito, o cuidado, a atenção que qualquer outro funcionário merece. A gente conversa muito sobre isso com as motoristas, mas também com as nossas empresas parceiras.”

A própria consultora admite que a situação das mulheres no setor também pode ser vista como um “copo meio vazio” devido ao fato de elas ganharem menos que os homens. “Já não era para a gente estar discutindo essa questão de diferença salarial, que não faz sentido nenhum. O fato de qualquer ser humano ganhar menos por conta de gênero, raça, cor, religião, seja o que for, é decepcionante.”
Outro fator negativo, segundo Soncin, é a resistência que muitas empresas ainda têm em contratar mulheres. “Eu acho que (isso acontece) por falta de informação. É aquele medo do novo, aquela história do sempre foi assim, um conservadorismo”, declara.

De acordo com a consultora, a alta direção de algumas empresas familiares são muito conservadoras. “E aí não é só com motoristas. Algumas não permitem que as próprias filhas vão atuar no negócio. É um paradigma que, espero, vai sendo quebrado com o tempo.”

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